01 fevereiro 2011

'Não ganhei nem perdi nada'', diz Silvio Santos


O empresário Silvio Santos afirmou ontem à noite que a venda do Banco Panamericano para o BTG Pactual deixou o grupo - que inclui a emissora SBT, a empresa de cosméticos Jequiti e as lojas do Baú Crediário - livre de obrigações com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). 'Não ganhei nada nem perdi nada.'

Embora o BTG tenha pago R$ 450 milhões pelo banco, esse valor foi entregue em títulos pelo empresário como pagamento ao FGC - o total, porém, é suficiente para cobrir somente pouco mais de 10% do rombo estimado nas contas da instituição, superior a R$ 4 bilhões. O prejuízo ficou com o Fundo Garantidor.

Fazendo piadas e vestindo camisa amarelo ouro, o empresário afirmou que o negócio foi suficiente para salvar as demais empresas do grupo. 'A televisão não está mais à venda, a Jequiti também não está mais à venda e as Lojas do Crediário do Baú (sic) também não estão mais à venda. A única coisa que foi vendida foi o banco.'

Alheio. O empresário afirmou também que não participou diretamente das negociações com o BTG. 'Foi tanto papel na minha frente... Eu nem assinei. Quem assinou foi minha filha Renata (Abravanel) e o meu sobrinho Guilherme (Stoliar)', explicou. Ao ser questionado sobre detalhes do negócio, respondeu: 'Não tenho a mínima ideia'.

Silvio Santos afirmou que decidiu vender o banco porque 'não entende nada' do negócio. 'A dívida do banco eu não sei. O FGC sabe. Eu não me preocupo com os números. Número para mim é um zero à esquerda ou um zero à direita', disse.

Apesar do rombo contábil, o empresário enfatizou que nenhum cliente do banco teve prejuízo - por isso, considerou que se tratava de uma instituição candidata a um bom comprador. 'Eu não podia deixar de vender o banco, porque o meu banco não deu prejuízo para ninguém, meu banco teve um bom comportamento', ressaltou.

Ele admitiu, porém, que houve falhas na administração do Banco Panamericano. 'Talvez ele tenha sido mal administrado, e essa má administração provocou aquilo que todos vocês conhecem. Eu acho que, se não tivesse havido má administração, não teria ocorrido o que ocorreu', admitiu.

Sobre a escolha de Luiz Sandoval, ex-presidente da instituição, ele afirmou que a opção se deu por causa da longevidade do executivo no grupo. 'Eu coloquei (no cargo) um rapaz que começou na minha empresa modestamente. Eu acho que, se uma pessoa cresce na empresa, (...) a gente dá promoções', explicou.

Ações. Em clima de 'quem quer dinheiro', o empresário também afirmou que o futuro do banco parece promissor - e aconselhou que os acionistas não se desfaçam dos papéis que têm em mãos. Embora tenha frisado sua falta de familiaridade com o setor bancário, Silvio disse que a instituição ficará em boas mãos com a gestão do BTG Pactual. 'São pessoas que têm conhecimento de banco e tudo leva a crer que as ações do banco vão se valorizar. Por isso, não vendam as ações do banco. Todos os que confiaram no banco não vão ter prejuízo', disse.

Ele afirmou ainda que não se sentiu frustrado ao perder o banco: 'Não é frustrante, É surpreendente, é emocionante. Os meus negócios para mim são mais uma forma de diversão.' Silvio disse que só 'entende um pouco de televisão' e considera suas demais atividades como meros investimentos: 'O dinheiro que se ganha a gente coloca em empresas e (escolhe) alguém para tomar conta delas'.

PARA LEMBRAR

A fraude bilionária no Panamericano veio a público em 9 de novembro, depois que o Banco Central (BC) encontrou um rombo estimado em R$ 2,5 bilhões na contabilidade do banco de Silvio Santos.

O buraco se formou com o Panamericano vendendo parte dos empréstimos que concedia a seus clientes para outros bancos, mecanismo autorizado pelo Banco Central.

Mas, com a venda das carteiras de crédito, o banco deveria tirar do seu balanço essas operações, coisa que não fazia. Com o dinheiro recebido pela venda dos financiamentos, o Panamericano oferecia novos empréstimos para seus clientes. A sequência de vendas sem retirada do balanço acabou inflando o valor do banco.

Na ocasião, o banco cobriu o buraco com um empréstimo do Fundo Garantidor de Crédito, criado em 1995 para proteger os depósitos de clientes. Silvio Santos deu como garantia todas as empresas do Grupo SS.

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